Caso de criança entregue a moradores de rua em BH revela drama da dependência química
Garota de dois anos foi entregue pela mãe, que é viciada em drogas, a moradores de rua no Centro da capital mineira. Situação mostra calvário da família de jovem de 24 anos, que luta para ficar livre do vício em crack e outras substâncias
“Ela estava em um local bastante degradado, que não era adequado. Em contato com os moradores de rua, um deles disse que a mulher havia deixado a criança por volta das 2h da madrugada de quinta-feira, dizendo que voltaria. Ele acrescentou que já tinha visto a mulher, mas não sabia o nome ou quem era”, contou o sargento. A equipe do Estado de Minas foi ao local, onde encontrou algumas pessoas consumindo bebidas alcoólicas. Uma mulher, que não quis ser identificada, disse que a criança não foi abandonada, mas deixada aos cuidados do grupo que ali estava. “A gente cuidou como se fosse nossa filha”, afirmou, sem dar detalhe sobre a mãe da menina. A poucos metros dali, ainda na Rua dos Carijós, um lavador de carros disse que na noite de quarta-feira chegou a levar a mãe e a criança para um ponto de ônibus, para que elas voltassem para casa, o que não aconteceu.
PISTAS Depois de resgatada e alimentada, a garotinha foi levada por policiais até a sede da 6ª Companhia da PM, a dois quarteirões, onde recebeu mais cuidados e o carinho de jornalistas que acompanhavam o desdobramento da ocorrência. Sem saber o que estava acontecendo, a menina se distraía com lápis de cor. Dizia que a mãe tinha ido comprar cigarro.
Alegre e brincalhona, deu pistas à polícia ao falar de familiares. Informou o nome da mãe e do avô. A idade, apontou com os dedos. Nesse meio tempo, o avô entrou em contato com o Conselho Tutelar da Regional Centro-Sul. Mauro conta que recebeu o telefonema da própria filha, informando que a polícia havia recolhido a menina. “Na quarta-feira, minha neta estava na Umei (Unidade Municipal de Educação Infantil), quando, por volta das 15h15, a liberaram para a mãe. Não entendi, porque ela sai às 17h e já pedi várias vezes para que não a deixem ir com a mãe. Acho que eles têm medo dela”, afirmou.
Para Mauro, a filha não faria mal à neta. “Quando usa droga, ela surta, mas é muito carinhosa com a menina.” O servidor público conta que internou a filha 21 vezes e fez o que pôde para que ela deixasse o vício. “Comprei casa para ela em Sabará. Coloquei pato, ganso, marreco. Ela cuidava das galinhas, mas conseguiu ficar só três meses e voltou a cair nas drogas. Também arrumei trabalho para o pai da menina, mas ele também é dependente”, disse.
O avô cuida da criança desde o nascimento e, há um ano e seis meses, entrou com documentação na Justiça para conseguir a guarda. “Ela é muito amada e bem tratada. Tenho plano de saúde e quero incluí-la, mas não consigo, porque não tenho a guarda.” Para ele, a filha deu uma versão diferente da apresentada pela polícia. Disse que não abandonou a menina, que a deixou por pouco tempo com os moradores de rua. Às 6h de ontem, viu quando a polícia recolheu a menina e então fez contato.
Ao buscar a menina no Conselho Tutelar, o avô foi orientado a regularizar a situação e assinou um termo de entrega e responsabilidade, já que é o cuidador, mas ainda não tem a guarda judicial. O órgão de proteção à criança e adolescente deve encaminhar relatório ao Juizado da Infância e Juventude, aconselhando que a guarda fique com os avós maternos. Na tarde de ontem, a menina voltou ao lar e não foi à Umei.
A ocorrência de abandono de incapaz foi registrada no plantão da Polícia Civil. A responsável pela investigação será a delegada Thais Degani, da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca). “Fizemos o registro por abandono de incapaz. Como não encontramos a mãe, a Polícia Civil ficará responsável por procurá-la”, acrescentou o sargento Muniz. A pena prevista para o crime é de detenção de seis meses a três anos, porém, a punição pode aumentar em um terço caso o autor seja o pai ou a mãe da criança.
UMEI A Secretaria Municipal de Educação informou que, em 2014, os avós da menina comunicaram a unidade que a mãe tinha problemas. Naquele ano, a direção ligava para os avós todas as vezes em que a mulher parecia alterada. No entanto, em 2015, a mãe matriculou a filha e, desde então, segundo a pasta, costuma levá-la e buscá-la com regularidade. Ao pegar a menina na quinta, inclusive, teria apresentado a carteira da criança, exigida dos responsáveis.
Segundo caso
Em três dias, foi o segundo caso de repercussão envolvendo crianças na Grande BH. Na terça-feira, Abimael Moreira Caldeira Costa, de 24 anos, anunciou o filho recém-nascido em um site com os dizeres: “Vendo lindo bebê com 10 dias de vida, homem, com saúde total e comprovada. Ótimo investimento. Valor a combinar”, dizia o anúncio com fotos da criança, depois retirado do ar. Abimael foi preso em flagrante pela Polícia Civil, alegou tratar-se de “brincadeira”, mas pode pegar até seis anos se condenado pelos crimes de prometer ou efetivar a entrega do filho mediante pagamento e submeter criança ou adolescente sob sua guarda a vexame ou constrangimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário