Que medo que senti ao sair de uma reunião de A.A., a minha segunda reunião, pois a primeira acontecera dezenove anos antes! Reafirmava para mim mesma o que tentara dizer lá dentro, sem o conseguir, pois as lágrimas me impediam: "Eu sou alcoólica"!
Era como se o universo estivesse desabando sobre a minha cabeça. Eu já estava há três dias sem beber, sentindo todos os horríveis sintomas da crise de abstinência: tremores, depressão, suor frio, dor de cabeça...
Para mim, ter entrado naquela sala foi a suprema humilhação. Eu sabia que, no dia em que voltasse a A.A., estaria decretando a minha falência definitiva como ser humano. Meu orgulho, minha autossuficiência intelectual, minha crença no poder da mente, tudo fora absolutamente inútil na minha luta insana contra o primeiro gole.
Admitir a minha impotência perante o álcool, reconhecer que tinha perdido o domínio da minha vida, aceitar minha insanidade e, principalmente, acreditar que um Poder Superior poderia libertar-me dela, tudo isso era demais para mim.
Eu sabia tudo sobre o alcoolismo porque lia tudo a respeito e já conhecera a Irmandade, mas sempre me recusei a aceitar que eu era portadora dessa doença.
Aquela noite foi a mais longa da minha vida. Morava sozinha e, da janela do apartamento, via os botecos onde costumava beber todas as noites. Consegui "ouvir" o tilintar dos copos e as risadas, apesar da distância (moro no oitavo andar). Via, num desespero total, aquela ilusão de felicidade se desenrolar diante dos meus olhos cheios de lágrimas. E o "canto da sereia" da fuga e do esquecimento que o álcool me proporcionava, soou aos meus ouvidos: "Talvez eu possa me controlar hoje. Tomar uma ou duas cervejas vai me ajudar a dormir..."
Uma sensação de extrema solidão me invadiu. Eu sabia que, naquele momento, teria de tomar a decisão mais difícil da minha vida. Mais difícil ainda do que a ida àquela reunião pedir ajuda, naquela mesma noite. E então percebi o quanto o álcool era um poder superior para mim. Sozinha eu não poderia ganhar a briga contra ele. Só um outro Poder Superior poderia me ajudar. E como foi difícil dizer esta minha oração: "Deus, eu não sei quem você é, eu não sei onde você está, mas, se puder fazer alguma coisa por mim, ajude-me a não sair de casa agora" .
Não sei como peguei no sono naquela noite. Lembro-me de ter chorado muito. Ao acordar na manhã seguinte, senti uma alegria imensa por ter vencido aquela primeira batalha contra mim mesma. E agradeci a um novo Poder Superior, que começava a se delinear em minha mente, por ter estado comigo no meu pior dia sóbria. Descobri que eu poderia, um dia, afinal, encontrar dentro de mim o que sempre procurei: uma Fé que funciona.
Nícia, Campinas / SP
Era como se o universo estivesse desabando sobre a minha cabeça. Eu já estava há três dias sem beber, sentindo todos os horríveis sintomas da crise de abstinência: tremores, depressão, suor frio, dor de cabeça...
Para mim, ter entrado naquela sala foi a suprema humilhação. Eu sabia que, no dia em que voltasse a A.A., estaria decretando a minha falência definitiva como ser humano. Meu orgulho, minha autossuficiência intelectual, minha crença no poder da mente, tudo fora absolutamente inútil na minha luta insana contra o primeiro gole.
Admitir a minha impotência perante o álcool, reconhecer que tinha perdido o domínio da minha vida, aceitar minha insanidade e, principalmente, acreditar que um Poder Superior poderia libertar-me dela, tudo isso era demais para mim.
Eu sabia tudo sobre o alcoolismo porque lia tudo a respeito e já conhecera a Irmandade, mas sempre me recusei a aceitar que eu era portadora dessa doença.
Aquela noite foi a mais longa da minha vida. Morava sozinha e, da janela do apartamento, via os botecos onde costumava beber todas as noites. Consegui "ouvir" o tilintar dos copos e as risadas, apesar da distância (moro no oitavo andar). Via, num desespero total, aquela ilusão de felicidade se desenrolar diante dos meus olhos cheios de lágrimas. E o "canto da sereia" da fuga e do esquecimento que o álcool me proporcionava, soou aos meus ouvidos: "Talvez eu possa me controlar hoje. Tomar uma ou duas cervejas vai me ajudar a dormir..."
Uma sensação de extrema solidão me invadiu. Eu sabia que, naquele momento, teria de tomar a decisão mais difícil da minha vida. Mais difícil ainda do que a ida àquela reunião pedir ajuda, naquela mesma noite. E então percebi o quanto o álcool era um poder superior para mim. Sozinha eu não poderia ganhar a briga contra ele. Só um outro Poder Superior poderia me ajudar. E como foi difícil dizer esta minha oração: "Deus, eu não sei quem você é, eu não sei onde você está, mas, se puder fazer alguma coisa por mim, ajude-me a não sair de casa agora" .
Não sei como peguei no sono naquela noite. Lembro-me de ter chorado muito. Ao acordar na manhã seguinte, senti uma alegria imensa por ter vencido aquela primeira batalha contra mim mesma. E agradeci a um novo Poder Superior, que começava a se delinear em minha mente, por ter estado comigo no meu pior dia sóbria. Descobri que eu poderia, um dia, afinal, encontrar dentro de mim o que sempre procurei: uma Fé que funciona.
Nícia, Campinas / SP
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